O Partido Ecologista que celebrou no passado dia 15 de dezembro 40 Anos de Ação Ecologista realizou no passado sábado, na sede de Lisboa, uma sessão comemorativa, cuja abertura foi marcada por um momento musical, e que contou com intervenções de Manuela Cunha, dirigente nacional do PEV, e de Filipe Lavrador, membro da Ecolojovem.
Na sede de Lisboa foram inauguradas duas exposições, uma dedicada a iniciativas e lutas ecologistas, e outra relativa à campanha SOS Natureza.
Fundado em 1982, Os Verdes nasceram da necessidade de agir pela paz, contra o nuclear, pela salvaguarda dos ecossistemas e da biodiversidade, a justiça social, pelos direitos humanos, pela igualdade, pela proteção dos seres vivos e pela ecologia, tendo por base uma ideologia de transformação da sociedade e como propósito o desenvolvimento ambientalmente sustentável.
Damos a conhecer a intervenção de Manuela Cunha, dirigente nacional do PEV na Sessão Comemorativa do 40º Aniversário do Partido Ecologista Os Verdes:
Caros Companheiros, Caras Companheiras
Caros Amigos, Caras Amigas
Os Verdes festejam 40 anos, num momento particularmente difícil!
Difícil para a Vida no Planeta:
Com as alterações climáticas e a perda de biodiversidade que se acentuam enquanto tardam as medidas para as travar e mitigar os seus efeitos. Veja-se o recente fracasso da Conferência das Partes no Egipto. Veja-se a urgência de travar a perda de biodiversidade, de proteger ecossistemas vitais e de se acordarem medidas que permitam o seu efetivo restauro, matérias em discussão na COP15 que decorre neste momento.
Um momento difícil a nível Mundial:
Com os imigrantes que morrem diariamente na travessia do Mediterrâneo e os que trabalham nas grandes produções agrícolas intensivas a serem as facetas mais gritantes das desigualdades entre Norte/Sul, da pobreza que afeta milhões de seres Humanos, da exploração e das injustiças agudas que perduram e assumem novas facetas (os novos escravos/escravas do sexo ou do mercado clandestino de órgãos);
Com a linguagem das armas a impor-se sobre o diálogo e a diplomacia. Um Mundo onde os conflitos armados nunca param, no qual perduram guerras há anos, como é o caso da agressão de Israel contra a Palestina e onde surgem novos conflitos, como é o caso da Ucrânia que arrastam mortes, destruição e milhares de refugiados;
Um momento também muito difícil a nível Nacional:
Com o custo de vida a disparar e a empurrar milhares de pessoas para a pobreza;
Com o SNS a ser despojado dos meios humanos para cumprir a sua Missão;
Com a educação completamente fragilizada e perigos a pairar sobre o nosso sistema Democrático com a Revisão da Constituição;
E com um ataque serrado à Natureza que se vai endurecer nos próximos anos. Basta ver as últimas decisões do Governo que determinam, por um lado, o esvaziamento do poder de decisão e atuação do ICNF, organismo que, mesmo com as suas debilidades, não deixa de desempenhar um importante papel no que diz respeito à Proteção da Natureza e, por outro lado, do Regime de Avaliação Ambiental, estendendo o novo Simplex no Licenciamento Ambiental que já aprovou para o setor energético a outras áreas.
Um momento também difícil para o Partido Ecologista Os Verdes:
A perda de representação parlamentar, representação esta que nos acompanha quase há 40 anos, cria obviamente obstáculos ao nosso desempenho, à nossa intervenção.
Mas esses obstáculos não são intransponíveis, como aliás temos vindo a demonstrar. Os Verdes continuam vivos e ativos e com novos ativistas!
Perante as adversidades com que o Planeta, o Mundo e o país se confrontam estamos ainda mais convictos que OS VERDES FAZEM FALTA!
Como tal, Companheiros(as) e Amigos(as), nesta intervenção não vou desenrolar o pergaminho das muitas, muitas lutas, ações e propostas que Os Verdes desenvolveram e apresentaram durante estes 40 anos. Teremos todo o ano iniciativas onde as relembraremos.
O que gostaria de deixar hoje aqui, para os que chegaram mais recentemente ao PEV, e aos jovens, são algumas das características que foram os pilares de sustentação e que marcam a diferença deste Projeto Ecologista, no universo partidário. Este pretende ser um modesto contributo sobre o nosso ADN para conhecimento e reflexão de quem contribuirá a dará continuidade e futuro a este Projeto.
1º – Durante estes 40 anos, Os Verdes, não agiram em função, nem na dependência das cadeirinhas ou cadeirões do Poder! Não fomos atrás de modas fáceis (poluidor pagador/ taxas e taxinhas ou proibitismos sem alternativas), ou de protagonismos pessoais! Fomos sempre um partido independente dos interesses económicos e dos lobbys.
Este Projeto foi-se construindo à volta de Bens-Maiores: a Proteção da Natureza; a melhoria do Ambiente em geral; a defesa da qualidade de vida e da dignidade dos cidadãos; a preservação e valorização do nosso património; a defesa da Paz e dos Valores de Abril, Liberdade, Democracia e desenvolvimento, que queremos sustentável.
No quadro da nossa intervenção internacional, mantivemos sempre um espírito de cooperação, não deixando de vincar as nossas especificidades.
2º -Em 1982, quando surgimos, fizemos a diferença! Diferença que preservamos ao longo destes 40 anos! Fomos um partido vanguardista!
Vanguardista pelas questões e interrogações que colocamos à sociedade e pelas propostas que apresentamos no Parlamento (das quais gostaria de destacar três que parecem do presente, mas que Os Verdes apresentaram nos anos 80 na Assembleia da República: a Criação de uma Lei de Bases dos Animais , mais tarde, um Plano Nacional de Pistas Cicláveis e a alteração ao artº 13º da Constituição da República Portuguesa abrindo a porta ao casamento entre pessoas do mesmo sexo).
Vanguardista pela forma como o fizemos. Numa era onde as redes sociais ainda não existiam, Os Verdes não desperdiçaram nenhum meio para ir ao encontro dos cidadãos com materiais de grande originalidade e beleza e com iniciativas que despoletaram sempre, pela criatividade, frescura e assertividade, a sua empatia.
3º O PEV foi nestes 40 anos um promotor de esclarecimento e educação ambiental, contribuindo muito ativamente para o crescimento da consciência ecologista em Portugal
As campanhas nas escolas direcionadas aos professores e aos jovens (nomeadamente sobre as alterações climáticas) foram um verdadeiro trabalho de educação ambiental que o Estado deveria fazer e não faz!
4 º Os Verdes foram atores de mudança, obrigando o poder a agir e contribuimos para um país melhor e ambientalmente mais defendido.
Levamos a ecologia política para a Assembleia da República, onde produzimos um trabalho reconhecido, mesmo quando omitido pela comunicação social, não só pela sua quantidade, como qualidade. A nossa intervenção Parlamentar teve sempre por suporte uma argumentação baseada no estudo e no conhecimento “in loco” do território e numa estreita ligação com as populações. Demos voz aos seus problemas e anseios mas também demos voz à Natureza que não a tem. Fizemos lei, de que aqui destaco as duas primeiras leis aprovadas de Os Verdes: a defesa do Lobo Ibérico e a legalização do Nudismo. Obrigamos o poder a agir (exemplo disso foi a selagem das minas da Urgeiriça).
Nas Assembleias Municipais, Câmaras e Juntas deste país, o contributo dos eleitos Verdes no quadro da CDU também foi e é muito importante.
Mas a mudança que conseguimos promover, não veio só da representação institucional, ela veio fundamentalmente das ações e lutas que levámos a cabo com a mobilização da população, ou criando ondas de pressão com ações de rua.
Estivemos também presentes, fazendo parte da solução quando o país precisou de nós para pôr fim a uma situação muito penosa para os portugueses. Assim foi em 2015, com o fim do Governo PSD/CDS e com a nossa participação na viabilização de um Governo minoritário do PS no quadro de uma solução parlamentar. E assim foi também, muitos anos antes, em Lisboa, quando participamos em coligações muito alargadas para resgatar a Capital à Direita e lhe dar um novo fôlego.
5º Nestes 40 anos O Partido Ecologista Os Verdes agiu com e para as populações!
Esta é sem dúvida uma marca de água que nos distingue de todos os outros projetos políticos que têm surgido e que se revindicam da ecologia.
Os Verdes incorporam desde a origem o espírito da Conferência do Rio de 1992, em que a Defesa do Ambiente vai sempre a par com defesa dos direitos sociais e culturais das populações e dos povos.
A participação dos Verdes na APU e na CDU, sem nunca perder a nossa identidade, não foi alheia a esta postura. A participação neste Projeto mais alargado e diferenciado, que foi a APU e agora a CDU, para Os Verdes foi e é de um grande enriquecimento, nomeadamente pela oportunidade de contactar outras preocupações, outros meios sociais, outras abordagens, outras opiniões. Mas sem dúvida que esta participação teve dois sentidos. Os Verdes também contribuíram para enriquecer a CDU, com as suas abordagens e preocupações.
De um pequeno Partido formado na sua origem por um grupo de pessoas com uma origem social restrita (engenheiros, professores, artistas) e com sensibilidade ecologista, Os Verdes tornaram-se num partido onde pulsa hoje em dia a diversidade social, o país, e a Natureza.
Agora, Companheiros e Companheiras, está na mão de todos os que aqui estão e dos muitos que não estando aqui estarão amanhã já na rua, ao nosso lado, fazer destes 40 anos um alicerce para o futuro. Para a construção de uma sociedade ecologista, sustentável, solidária, culta e diversa. Uma sociedade mais bonita, num Planeta Vivo.
Viva Os Verdes.