Hoje, dia 23 de novembro, celebra-se o Dia da Floresta Autóctone consagrado para divulgar a importância ambiental, económica, social e cultural das espécies florestais naturalmente adaptadas às condições edafo-climáticas de Portugal e mais resilientes às alterações climáticas, aos incêndios e à necessidade de as salvaguardar da destruição.
Mas este ano, a celebração soa como um S.O.S gritante, pois a preservação da floresta autóctone está mais que nunca em risco:
– Depois do grande incêndio deste verão na Serra da Estrela, com a perda de floresta autóctone, bem como noutras áreas protegidas, nomeadamente no Parque Nacional da Peneda Gerês;
– Num momento em que o montado de sobro e de azinho – espécies classificadas – está sujeito a uma total devastação pelo abandono e sucessivos abates para ocupação do seu território com culturas intensivas de olival e amendoal, nomeadamente no Alentejo, e para projetos energéticos;
– Quando na Ilha da Madeira se abrem verdadeiras chagas na nossa única mancha significativa de floresta primitiva, a Laurissilva, classificada como Património Natural da Humanidade;
– Depois de décadas de pressão e ocupação das monoculturas florestais, em particular a de eucalipto (por opções de sucessivos governos do PS e PSD), potenciando a ocorrência de incêndios e a proliferação de espécies invasoras ou a desmatação e alteração do uso do solo para a implementação de grandes projetos, como é o caso da exploração mineira;
– Quando estamos à beira da extinção da entidade que gere as Florestas e as áreas classificadas com uma perspetiva nacional, o ICNF.
Só podemos temer pelo futuro da nossa floresta autóctone!
Quando falamos em floresta autóctone portuguesa, falamos do sobreiro, dos carvalhos, do medronheiro, do azevinho, da azinheira, e das espécies que integram a laurissilva como o loureiro, o barbuzano, entre outras, sendo mais resistentes aos incêndios, a longos períodos de seca e de chuvas intensas, a pragas ou doenças em comparação com as espécies exóticas introduzidas.
As florestas autóctones são fundamentais para manter a sinergia positiva entre multifuncionalidade da floresta e a interação com as atividades económicas existentes no mundo rural, nomeadamente agrícolas, pastoris, pequenas unidades de transformação, turismo de natureza, entre outras. Esta floresta nativa e pós-nativa é elementar para o equilíbrio dos ecossistemas e da biodiversidade servindo de local de refúgio e reprodução para inúmeras espécies autóctones. Para além dos motivos ambientais e económicos, as florestas endógenas são essenciais para a retenção e enriquecimento dos solos, recarga dos aquíferos subterrâneos e são elementos estruturantes da nossa identidade cultural e da própria paisagem.
A destruição deste nosso património comum, garante da nossa sustentabilidade ambiental e económica, tem sido uma das principais preocupações do Partido Ecologista Os Verdes que tem realizado ao longo destes quarenta anos várias ações, intervenções e apresentado inúmeras propostas, nomeadamente para travar a expansão das monoculturas de eucalipto e promover o plantio e a sustentabilidade da nossa floresta nativa. O PEV foi impulsionador da determinação legal de estancar o crescimento das monoculturas de eucalipto, com a alteração da lei de arborização e rearborização.
A floresta autóctone é uma parte muito importante dos nossos ecossistemas, constituindo um elemento fundamental para o seu equilíbrio tendo um papel diversificado e importante na regularização da qualidade do ar, no clima, na proteção de solos e recursos hídricos, no suporte e expansão da biodiversidade, nomeadamente endógena.
Neste sentido, o Partido Ecologista Os Verdes considera que para a preservação e conservação da nossa floresta autóctone é preciso que o Governo adote e fomente um conjunto de ações e medidas para:
– Travar e reduzir as monoculturas florestais de crescimento rápido, como é o caso do eucalipto, agindo designadamente nas áreas ardidas no primeiro ano após a ocorrência de incêndios;
– Controlar a proliferação de espécies invasoras, como as acácias, que têm ocupado cada vez mais áreas, em particular as ardidas;
– Assegurar a (re)rearborização das áreas ardidas tuteladas pelo Estado com espécies autóctones, como é o caso do Parque Natural da Serra da Estrela;
– Apoiar os pequenos proprietários, baldios e autarquias locais para a (re)arborização com espécies florestais endógenas;
– Compensar os pequenos proprietários pela opção de plantio de espécies florestais nativas nos primeiros anos em que essa opção não gera rentabilidade, desincentivando a arborização com espécies de crescimento rápido;
– Promover uma floresta autóctone diversificada e multifuncional articulada com as atividades existentes no espaço rural, em particular agro-pastoris;
– Salvaguardar uma estrutura nacional de gestão da floresta o que passa atualmente pela manutenção do ICNF e suas direções regionais, garantindo e reforçando mais meios humanos e técnicos para o desempenho da sua missão;
No âmbito da campanha SOS Natureza que Os Verdes iniciaram a 21 de março, e que decorre até ao final do ano, em defesa da biodiversidade e dos ecossistemas, o PEV tem igualmente abordado a necessidade de preservar e salvaguardar a floresta autóctone, nomeadamente com a colocação de bandeiras negras na Mata das Folhosas (Esposende), na Mata dos Medos (Fonte da Telha), no Parque Natural Sintra-Cascais, contra a devastação de sobreiros e azinheiras (Portalegre) e através de ações de controlo de espécies invasoras (acácias) e plantação de espécies endógenas na Mata Nacional do Buçaco.
No Dia da Floresta Autóctone Os Verdes reafirmam a necessidade de defender e valorizar as espécies endógenas essenciais para garantir a nossa sustentabilidade ambiental, salvaguardando a biodiversidade, o património genético vegetal, as potencialidades económicas do espaço rural e a nossa identidade cultural e paisagística.
23 de novembro de 2022
Partido Ecologista Os Verdes