NOVAS AMEAÇAS PAIRAM SOBRE O SERVIÇO DE PASSAGEIROS DA LINHA DO LESTE
No passado dia 8 de julho, o Partido Ecologista Os Verdes reuniu com forças vivas do distrito de Portalegre para alertar para as ameaças sobre o futuro desempenho da Linha do Leste, tendo dirigido também uma Carta Aberta aos Eleitos Municipais do distrito.
CARTA ABERTA
Em 2017, foi com grande alegria e com o sentimento de recuperar algo que lhe tinha sido roubado que a população do distrito de Portalegre recebeu a notícia do retorno do comboio diário de passageiros à linha do Leste, em toda a sua extensão. A reposição deste serviço ferroviário levou também à reabertura de uma importante ligação ferroviária internacional, Entroncamento/Badajoz, encerrada há 5 anos, com grande acolhimento do outro lado da fronteira e dos turistas.
Todavia, o serviço de passageiros disponibilizado (oferta e tempo de viagem) não veio responder plenamente às necessidades de mobilidade da população, nem nas deslocações internas ao distrito, nem na ligação do distrito com o resto do país, nem permitiu que esta oferta de mobilidade mais amiga do ambiente se apresente como uma verdadeira alternativa ao transporte rodoviário. Mesmo assim, o número de passageiros a utilizarem o comboio excedeu as expetativas dos próprios responsáveis da CP, e dos governantes, o que é bem demonstrativo das potencialidades desta linha.
Ora se em 2017, a oferta reduzida de serviço tinha uma justificação, a inexistência de material circulante em condições, atualmente a situação é bem diferente. A preservação e o reforço, humano e logístico, dos diversos polos oficinais da CP (ex-EMEF) existentes no país, fruto da luta dos próprios trabalhadores ferroviários e de uma composição parlamentar favorável à ferrovia, permitiu a recuperação e reparação de muito material circulante que estava obsoleto. Como tal existem hoje condições para aumentar a oferta de horários regionais e para criar já uma ligação Intercidades Badajoz/Lisboa!
Mas no momento, onde estão criadas as condições para melhorar a oferta do serviço de passageiros na linha do Leste, não só através da oferta de mais comboios, como também com as condições para concretização da sua eletrificação e para avançar com a aproximação do comboio à cidade de Portalegre, reivindicações muito antigas das populações, agora previstas no PNI/2030, uma nova ameaça vem pairar sobre a linha. Uma decisão politica do atual Governo pode hipotecar definitivamente o futuro do serviço de passageiros na linha do Leste, na sua ligação ao país, como resposta eficaz e atrativa e alternativa ao transporte rodoviário e assim o contributo desta linha na mitigação das alterações climáticas.
Alertar as Câmaras, Assembleias Municipais e população do Distrito para esta situação, é o objetivo desta Carta Aberta.
Já todos ouviram falar da nova ligação ferroviária de Alta Velocidade que prevê ligar Lisboa/Porto em 1h 15 minutos, pelo litoral do país, prevista no PNI/ 2030. O que talvez não tenha chegado a todos, porque o Governo as tem silenciado, são as consequências que daí advêm para a linha do Norte da qual está previsto retirar toda a circulação ferroviária mais rápida, Alfas e Intercidades, deixando a mesma só vocacionada para mercadorias e para circulações de passageiros, mais lentas, inter-regionais, regionais e urbanas. Esta verdadeira desclassificação da linha do Norte terá um impacto muito negativo nas articulações ferroviárias com o resto do país que decorrem no Entroncamento, o que é o caso da linha do Leste.
Os Verdes não discordam da construção da nova linha, atendendo à sobrecarga horária que estrangula anualmente a linha do Norte, no entanto consideramos que esta não pode ser feita à custa do agravamento do serviço aos passageiros do distrito de Portalegre e no interior do país. A retirada do serviço rápido de passageiros da linha do Norte, irá obrigatoriamente aumentar o tempo de viagem, e reduzir o conforto de um passageiro que vá da linha do Leste para Coimbra, Aveiro, Porto e hipoteca definitivamente a ligação rápida por Intercidades Lisboa/Badajoz que as populações do distrito de Portalegre tanto desejam e merecem!
Tal como a reposição do serviço diário de passageiros na Linha do Leste não ocorreu de qualquer estratégia governativa para a promoção da ferrovia ou para o desenvolvimento do distrito de Portalegre, ela foi arrancada por uma intensa e longa luta, na qual o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) teve um papel determinante mas no qual nunca esteve só, o forte apoio da população do distrito às iniciativas parlamentares do PEV e às negociações que desenvolvemos com o Governo, assim como as posições de apoio expressas publicamente por inúmeras forças vivas da região (sindicatos, entidades ligadas ao turismo e à educação, entre outras) e por muitos autarcas, para além dos seus posicionamentos políticos foram determinantes, também agora é preciso juntar esforço para que a construção da nova linha Lisboa/Porto não contribua para retroceder neste caminho.
Os investimentos ferroviários devem contribuir para combater as desigualdades territoriais e não para as agravar!
Os Verdes apelam a todos os eleitos dos órgãos municipais dos concelhos do distrito de Portalegre para que se oponham à “desclassificação” da linha do Norte e que defendam a manutenção de oferta rápida para passageiros nesta linha, daí dependerá também o futuro da linha do Leste e o desenvolvimento do distrito de Portalegre.
O Partido Ecologista Os Verdes
08/07/2022