“Se uma plataforma de IA se tornou uma ‘treinadora de suicídio’ para um adolescente vulnerável, este deve ser um alerta coletivo”. Estas são as palavras da ONG norte-americana Common Sense Media após os pais de um adolescente norte-americano terem avançado com uma ação judicial contra a OpenAI, acusando o assistente de Inteligência Artificial (IA) ChatGPT de ajudar o filho a tirar a sua própria vida.

A utilização da inteligência artificial no dia-a-dia passou a ser um dado adquirido. Utiliza-se para tantas perguntas diárias que fica a questão, servirá também para fazer questões de saúde mental? O Chat GPT pode ser o meu psicólogo? Uma plataforma que pretende que a sua utilização seja cada vez mais frequente, de forma a ter cada vez mais lucro, beneficia com respostas profissionais e de encaminhamento para profissionais? Ou será que alimentará a conexão e dependência à plataforma?

Para além das questões éticas que esta ideia levanta há uma questão fundamental: “Porque alguém procura estas plataformas para responder às suas perguntas sobre saúde mental e o que há de reconfortante nas suas respostas?”. Pois bem, empatizar e elogiar são processos fundamentais da psicologia, mas não só, a reflexão é fundamental para a mudança de comportamento do Ser Humano. Estas plataformas pretendem que o utilizador volte à plataforma e de que forma se não alimentando e concordando sempre com o utilizador, potenciando dependência emocional. Um dos perigos é este, deixar a Saúde Mental na análise de dados selecionados, sem a relação humana, sem o olhar, sem a reflexão, numa altura em que o espaço para a relação, para a reflexão está posto em causa. Isolarmo-nos parece então a resposta certa, perguntar à plataforma e não a profissionais especializados, mercantilizando assim a conexão emocional.

Uma em cada seis pessoas sofre efeitos da solidão mundialmente, solidão esta que é uma causa objetiva de morte. Segundo a Organização Mundial de Saúde a solidão causa 870 mil mortes por ano em todo o mundo, 100 pessoas por hora, por doença causada pela tristeza e pelo stress provocado por não se possuir conexões que se gostaria de ter.

A prevalência de problemas de Saúde Mental em Portugal (22%) é das mais altas da União Europeia, onde a média é de 16,7%. Num país em que vinte por cento das crianças e adolescentes têm, pelo menos, uma perturbação mental, e quase 31% dos jovens possuem sintomas depressivos, o investimento na Saúde Mental é gritante! Espera-se a cada ano que abram mais vagas para Psicólogos no SNS, mais vagas para psicólogos nas Escolas, mais psicólogos nos Tribunais… Mais psicólogos para a população. Vê-se no entanto um movimento oposto ao que a população grita que precisa, dificultam-se as condições para uma vida digna e de qualidade, o acesso a momentos de reflexão e de comunidade, como o desporto, a arte, o convívio social. Deixando assim a população sozinha com os seus pensamentos e sentimentos, não permitindo uma reflexão conjunta, uma partilha e um respeito pela experiência de cada um.

Em vez disso, é dividida a população, estilhaçada, desincentivando a reflexão deste desinvestimento em políticas cuidadoras e promotoras da qualidade de vida dos seus cidadãos. É posta uma pressão no indivíduo enquanto causador de todos os seus males e que a única forma de ultrapassar é isolando-se, consumindo conteúdo emocionalmente estimulante, que tenta preencher este vazio de escuta e de compreensão.

Os jovens gritam por ajuda.

É imperativo ouvi-los!