As há muito reclamadas e fundamentais obras de requalificação e electrificação da Linha do Oeste têm sido lentas, somando atrasos e derrapagens, continuando por esclarecer qual o real reforço de horários, a diminuição no tempo das viagens, bem como as melhorias na integração no sistema ferroviário dentro da coroa de Lisboa (e ligação aos nós principais e à rede nacional para o norte e sul) ou a intermodalidade com os restantes sistemas (metro e carris, desde logo). A falta da material circulante, por exemplo, ameaça pôr em causa, ou pelo menos atrasar, a efetividade destes importantes investimentos.
Neste plano estavam incluídas, para além da duplicação nalguns troços da linha, rebaixamento da linha em túneis, eliminação de passagens de nível substituindo-as por desniveladas, construção de sub-estações elétricas, a intervenção nas próprias estações.
Sendo certo que as estações requerem modernização, elevação dos cais de embarque, construção de passagens pedonais aéreas, melhoria das salas de espera e das instalações dos trabalhadores, Os Verdes não podem deixar de protestar pelo atentado patrimonial que está a ocorrer na centenária Estação de Caminhos de Ferro de Torres Vedras. Inaugurada em 1886, conheceu muitas alterações ao longo das décadas, tendo chegado a apresentar um conjunto edificado de grandes dimensões, hoje já quase todo demolido.
A histórica ligação da ferrovia à cidade de Torres Vedras, a nível social, económico e cultural – recorde-se a chegada dos reis no Carnaval, como as viagens da família real no século XIX e XXI à região – não é respeitada mas aviltada pela intervenção em curso. Só os painéis de azulejos foram poupados e protegidos, mas as antigas portas de madeira e a guarnição dos arcos foram destruídas e substituídas por novas de alumínio ou PVC que não preservam o desenho original, arruinando a imagem das fachadas.
A calçada à portuguesa que havia resistido no cais também não é poupada e é pura e simplesmente varrida e substituída por lajetas descaracterizadas e sem qualquer enquadramento com o edifício histórico. Nem os bonitos pilares de suporte do telheiro exemplar da arquitetura do ferro são poupados vendo-se as suas bases enterradas pelo novo cais.
Os Verdes denunciam este atentado da IP, perante o silêncio da autarquia, que constitui mais uma machadada nas pretensões turísticas da cidade e da região.
Quando a modernidade não é capaz de se conciliar com o património e a memória histórica revela-se pobre e sem visão de futuro.
Muitas estações por este país fora têm conhecido intervenções, elevação de cais de embarque sem necessidade de arruinar o património arquitectónico, preservando as fachadas do edifício principal e as suas componentes, deslocando o cais alguns metros para o lado.
Os Verdes reclamam a correção deste erro e o respeito da IP por um património que, sendo histórico, não lhe pertence apenas a si, mas também a Torres Vedras, às pessoas que nela habitam e a visitam, herdeiros de uma memória e identidade cuja preservação também é de interesse público e tem de ser compatibilizado com as necessidades de conforto e segurança.
Os Verdes reafirmam a sua posição a favor da modernização ou electrificação da linha do Oeste que irá servir melhor as necessidades das populações, sublinhando que é imperativo preservar o património.
Partido Ecologista Os Verdes
28 de janeiro de 2025